"A Escola do Caramanchão é a mais pequena da Madeira; 23 alunos com carência estão nas mãos deles, dos professoresAqui temos de estar muito perto dos alunos. A Escola do Caramanchão dispõe de 17 professores e funcionários para 23 alunos.
"Enquanto puder fico nesta escola, eu gosto de trabalhar com estes alunos e quero acompanhá-los até não poder mais". É com este entusiasmo, perseverança e dedicação que a professora Lídia Barros fala das aulas que lecciona na Escola do Caramanchão (Machico), onde faz de mãe, de educadora e de psicóloga. O Dia Mundial do Professor passou ao lado desta docente natural da Guarda, que foi destacada para a Madeira há sete anos. Foi colocada na Escola de Machico mas é no Caramanchão que quer ficar. Dá aulas de informática e de inglês a uma turma do 1.º ciclo com 10 alunos, todos eles casos de insucesso escolar. Lídia Barros tem o lugar assegurado numa grande escola, mas prefere abraçar a sua pequena causa na mais pequena escola da Madeira. Apenas 23 alunos estão matriculados na Escola Profissionalizante dos 2.º e 3.º ciclos do Caramanchão, situada numa das encostas verdes da cidade de Machico. O número de alunos não dá para encher duas salas. São rapazes e raparigas normais, oriundas do Caniçal, Água de Pena, Porto da Cruz e Machico. Em comum têm uma herança educativa e social pouco generosa. Lídia Barros já deu aulas a alunos de um nível excepcional, no 1.º ciclo. Agora, trabalha com os designados currículos alternativos, ensinando miúdos que têm dificuldades na leitura, na escrita e no raciocínio. As turmas são pequenas, mas isso não é um entrave para o rendimento pedagógico individual. Muito pelo contrário. "Eu acho que é bom e gostaria que fossem menos ainda porque, infelizmente, as dificuldades que eles têm são muitas e é muito complicado seguir um a um". Os miúdos estão divididos por duas turmas: uma com 10 alunos, matriculados no 5.º ano de cursos curriculares alternativos; e outra com 13, do 2.º e 3.º ciclos, no curso de educação e formação na área de floricultura e jardinagem. Depois, não faltam as disciplinas teóricas: português; inglês; informática; formação tecnológica; ciências naturais; cidadania e mundo actual; educação física; formação cívica; higiene e segurança no trabalho; e matemática aplicada. "Temos 12 professores a tempo parcial que leccionam várias disciplinas; temos ainda um monitor, um formador, duas auxiliares de acção educativa e uma cozinheira", enumera Carmelita Borges, directora daquela escola inaugurada em 1999.As actividades para os jovens com necessidades educativas especiais está ao cargo de Ana Luísa Almeida, natural de Abrantes. A sua adaptação à Região tem sido um processo simples. O recôndito sítio do Caramanchão é algo a que já está habituada. "Eu já dei aulas em Santana, na Ribeira Brava; vou sempre contra o trânsito", ironiza. A vontade de construir o futuro destes jovens passa pelos currículos alternativos. Para breve, os alunos vão ter formação em oficinas: carpintaria, azulejo e electricidade. Ser professor exige imaginação e um esforço diário para incutir vontade em aprender aos homens e mulheres de amanhã. Os pequenos saem da escola com certificados profissionais que lhes dão equivalência ao 9.º ano e habilitação para exercerem qualquer actividade na área da floricultura e da jardinagem. "Às vezes vê-se que eles precisam de falar, precisam de um colo ou de um berço que não tiveram", nota a professora Ana Luísa. Por isso é que os docentes são também psicólogos, educadores e pais dos alunos. A Escola do Caramanchão é uma espécie de abrigo onde todos aprendem com todos (professores e alunos). "Aqui eles estão muito mais protegidos", observa Joana Sousa, natural da 'cidade berço' (Guimarães), professora de matemática, de higiene e segurança no trabalho e de ciências naturais. "Aqui temos de estar muito perto dos alunos", complementa Carmelita Borges, directora da escola."
in - Diário Notícias, RAM, por Ricardo Duarte Freitas e Sílvia Ornelas
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