"Alguém diferente de ti parecido contigo"
Um olhar chateado, igual a tantos olhares, que eu
conheço e compreendo, mas que me chateia, como me
chateiam todos os olhares chateados. Mesmo os teus.
Uma discussão, a que se segue quase inevitavelmente
uma outra e por aí fora, muitos dias, muitos outros
dias, quase todos desta nossa vida enganada. Amo-te
como tu também me amas, bem sei, mas nunca isso é
lembrado nas trocas de palavras azedas, ou nas
palavras arrependidas sempre tarde demais. E depois
vem o silêncio que nunca se sabe bem como terminará,
nem quando. Nem mesmo se serei eu a vencê-lo ou tu.
Pode ser com o pequeno-almoço do dia seguinte, ou até
com uma troca palavras que ao início até poderia
parecer seca e oca, pois era do tempo que ia fazer
amanhã, e de como os tipos da meteorologia se enganam
sempre, que se falava... uma incógnita, nunca sabendo
muito para que lado iria a história encaminhar-se, a
nossa história, que cada vez mais era uma história
minha e tua. O dia de amanhã chega amanhã e lá
voltamos aos beijos, aos abraços, ternuras e carícias
que tão bem conhecemos e que de tanto gostamos, que me
fazem lembrar que te amo, como tu também me amas, bem
sei.
Um olhar angustiado, igual a tantos olhares, que
acostumo agora a ver e compreendo, mas que me
amargura, como me amarguram todos os olhares
angustiados. Ainda para mais sendo teus. Uma
discussão, consequência de muitas outras, tida com
cansaço e tristeza, que se quer que seja última.
Amo-te como também tu me amas, bem sei, mas nem sempre
isso é suficiente, porque amor não é sentimento
isolado, não é o bicho do mato que parece ser, é soma
de vontades, de silêncios derrotados, de conversas
realmente conversadas, é olhar o céu e gostar dele só
por ele ser azul, mesmo que chova ou faça sol, mesmo
que nos atire pedras ou nos beije com lábios de fada.
E podemos agora não voltar aos beijos, ternuras e
carícias que tão bem conhecemos e que tanto gostamos,
e viver uma história minha e tua, com as costas
doridas com uma relação que pesou bem pesado,
e depois?
Nem tudo é bom, nem tudo é bonito, porque razão
haveria de ser tudo nosso, só nosso? Talvez mais
tarde, talvez um dia, talvez alguém diferente de ti
parecido contigo.
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